Ele era o tipo de cara que se podia dizer belo com as quatro letras. Modos de pirata, sorriso de chapeleiro.
Com o cigarro na mão, desceu do ônibus que o trazia do Rio, pondo os pés e a bagagem no chão como nunca fizera em dois anos.
É quando a viu saindo de uma das lojas da rodoviária municipal de sua cidadezinha do interior paulista.
Já faziam dois anos que não se viam, já faziam dois anos que não se tocavam.
A reação dela foi jovial, passou de um "não acredito" para uma paralisia cerebral em instantes.
Um sorriso torto se formou no rosto do rapaz de costas largas.
Um sorriso radiante se formou no rosto da menina-moça que ele deixara.
- E aí, Kaline, não vai me dar um abraço?
Horas depois, já estavam entre amigos na praça. Riam, bebiam e se olhavam; ele pra ela, ela pros traços que mesmo depois de tantos meses, ainda lembravam a si mesmos.
- Eu mal conseguia acreditar que era você. Tá com a mesma cara de antes, pensei que o Rio te mudaria.
- Ah, mudou um pouco. Acabei revendo algumas coisas lá, percebi de quais eu realmente sentia falta.
- Poxa, legal. Possa saber quais coisas são?
- Bom, uma delas era falar de patos com uma certa versão feminina de mim.
- É, patos são legais. - Disse a menina cujo contexto e a alegria só ela conhecia.
E ficaram lá. Falaram de patos, de avengers, do interior paulista e do litoral carioca.
- E você, Ka, tá namorando?
- Vish... Na verdade, não. Tenho andado "a sós comigo mesma".
- Com certeza, porque quer. Sabe, desse jeito que você está, é meio estranho que esteja sozinha.
- Nem é, vei...
- É, talvez não. Talvez eu tenha sorte.
Um olhar cúmplice e um meio duvidoso se alcançaram.
Já num fim de farra e no assovio da noite, quando a bebida já os desviavam e a fumaça já se fazia embalar, ela se levantou despedindo-se.
- Ah, fica mais um pouco.
- Nem dá, Jorge. Amanhã tem aula e já tá tarde. Sem contar que minha mãe tá viajando e do jeito que eu tô, mal vou conseguir abrir o portão.
- Ah, de boa. Vou contigo.
- Não, nem precisa. O pessoal tá comemorando tua volta. Aproveita.
- Não, eu quero te levar.
Ele se impôs. Iria levá-la de qualquer jeito.
Se despediram dos amigos e após umas oito esquinas, já estavam rindo e brincando como dois bêbados.
Ou apaixonados, há quem diga.
Chegaram ao portão, ela conseguiu abri-lo.
Depois de um minuto ou dois, ela o convidou a entrar.
Ele aceitou e ao entrar na sala, conquistou o espaço como só ele sabia fazer.
Ela caminhou até a cozinha procurando por um copo.
Ele a seguiu procurando por ela.
Ela, encostada a pia, lhe parecia perturbadora. Eles, inconscientemente, já se queriam.
Ele se aproximou da mulher que estava na pia; mulher que antes menina, ele deixara.
Pôs-se perto ao seu ouvido e, ela, meio boba, meio bêbada, deixou-se levar.
- Teria eu, permissão para beijá-la?
-Sabe, - ela disse rindo - isso me lembra uma cena de um livro.
- Sério? Mas e aí, ela deixa?
- Bom, na verdade, não.
- Hum... Então a gente aproveita pra mudar a história, Ka.
E ele a beijou.
Suas mãos apertavam-lhe a cintura enquanto sua boca consumava o que há muito era aguardado.
E ele, do pescoço ao ombro, buscava incansavelmente recuperar o tempo perdido.
E as unhas dela, da nuca àquelas costas, marcava o toque que há tanto se escondera entre a vontade o receio de si mesma.
Foram perdidos que se encontraram.
E o copo caíra em pedaços no chão.
E eles, inteiros, caíram em tentação.
Exprimido entre eles, um amor antes sufocado passou a gritar pela vizinhança inteira.
- Bruna, a intrometida.
Mano... Eu chorei!
ResponderExcluirBruna, tu é foda menina! Parabéns!
~Vic, ou Nina aqui!
Vic, eu também chorei suahsuahs
ResponderExcluir~~kaline aqui uahsuhas